E já que o clima é Rock in Rio 2013 e dia 19/09 está chegando. Nada melhor que relembrar uma matéria com o ex-baixista do Metallica, Jason Newsted, falando sobre o clássico e ainda polêmico, Black Albúm.
Em sua
esperadíssima volta ao vinil, o Metallica abandonou as epopeias sonoras e
partiu para a simplicidade: um disco de rock rápido e pesado. O baixista Jason
Newsted revela as dificuldades da produção deste adeus ao thrash, que está
sendo considerado o melhor disco da banda.
A única
coisa que indica que o homem à minha frente é o baixista de uma das maiores
bandas de rock do planeta é seu anel: uma caveira rodeada de serpentes, em
ouro.
Jason
Newsted acaba de acordar - na verdade ainda está meio dormindo. Ele se joga no
sofá, ajeita os óculos e suspira. "Já fizemos dois shows desta turnê
Monsters Of Rock... amanhã em Donnington é o terceiro. Ainda estamos nos
aquecendo... depois de tanto tempo longe dos palcos, é difícil." Ou seja:
o Metallica está de volta - e com um disco aclamado como o melhor de sua
carreira.
Para quem
andou se perguntando onde estava à banda, a resposta é simples: depois de um
ano e meio na estrada promovendo o álbum ...And Justice For All, eles pararam
para descansar. Casaram, construíram casas, cuidaram da vida.
Depois de
um tempo bateu a necessidade de retomar o grupo. Jason, o vocalista/guitarrista
James Hetfield, o guitarrista Kirk Hammet e o baterista Lars Ulrich se uniram
novamente para começar a trabalhar no seu quinto disco. Depois do sucesso de
crítica e vendas do álbum duplo Justice, não deve ter sido fácil.
Pois eles
conseguiram: superaram Justice. Metallica, o disco, entrou direto no primeiro
lugar da parada britânica; o single "Enter Sandman" entrou direto em
quinto lugar. Nos Estados Unidos, o single é uma das músicas mais pedidas nas
rádios.
Uma
novidade importante: em vez de temas longos e elaborados, o disco apresenta
doze músicas curtas, diretas. Provavelmente por influência de Bob Rock,
produtor do disco, que trabalhou antes com o Cult, Mötley Crüe e Bon Jovi. Mas
que ninguém pense que a presença de Bob amenizou o ataque do Metallica. Eles
continuam rápidos e pesados - só que agora em canções de três minutos, não dez.
A recepção
excelente que o álbum recebeu não caiu do céu. A gravadora planejou o marketing
do álbum cuidadosamente, e até a capa de Metallica, bolada pelo próprio grupo,
se encaixa neste esquema.
A famosa
capa é uma ideia de gênio: nada de monstros ou cores fortes. Ela é totalmente
negra; se você forçar a vista, verá o nome da banda num canto e uma serpente em
outro.Mas o
Metallica não estaria vendendo tão bem, nem estaria na capa de Melody Maker,
NME, e até Q e Time Out (que geralmente ignoram totalmente este gênero musical)
se o disco não tivesse sido verdadeiramente bem recebido por quem realmente
interessa - os fãs.
Acima, os
melhores momentos da entrevista com Jason. Ele recorda todos os passos na
produção de Metallica, do período de preparação ao estouro, da colaboração de
Bob Rock à concepção do novo estilo do grupo. De quebra, relembra o Brasil,
analisa o metal atual, elogia Police e Rush e revela seus discos prediletos no
momento - você acreditaria em Ziggy Marley e Tom Waits?
PAUSA PARA
MEDITAÇÃO
"Depois
de dezoito meses na turnê de And Justice For All, estávamos esgotados.
Precisávamos parar e gastar um pouco de dinheiro.”
"Foi
um período importante para nós. Compramos casas, tentamos dar um jeito em
nossas vidas domésticas. É importante ter uma âncora. Tocar numa banda é como
viver duas realidades diferentes. Quando estou em casa me pergunto como é que
consigo fazer show após show. Mas depois de dois dias na estrada, já esqueci
onde minha casa fica!"
A PRESSÃO DA VOLTA
"Ninguém
de fora nunca tentou interferir com a ´fórmula´ do Metallica. Mas nós nos
impomos um certo padrão ideal. Sabíamos que tínhamos que criar nosso melhor
álbum. Reposicionar o Metallica para os anos 90... queríamos começar esta
década com a força anterior."
FAZER
SUCESSO SEM SE VENDER
"É uma
coisa muito positiva, poder compor e tocar exatamente como queremos, e
conseguir alcançar tanta gente. Nunca dissemos ´vamos escrever músicas curtas
para agradar as rádios e a NME´. Produzimos um disco mais acessível, mais
audível porque quisemos."
"O
importante para nós é que o disco tivesse um bom groove, mais alma que os
anteriores. O groove aconteceu com nossa tentativa de simplificar. Fomos
jogando fora tudo que era supérfluo, indo direto ao assunto."
"Chega
de músicas com vinte partes, seis mudanças de tempo, toda aquela coisa
progressiva! O Lars começou a tocar de maneira mais básica, eu fiquei mais
solto, deixando as guitarras fazerem o que tinham de fazer, e os vocais do
James ficaram mais cheios de emoção."
A PRODUÇÃO
DE BOB ROCK
"Queríamos
uma pessoa com ideias novas e diferentes. E quando conhecemos o Bob. vimos que
ele era a pessoa certa. É tão diferente ter alguém no estúdio que tenha
know-how, sem falar em seu incrível ouvido. Ele sabe obter os resultados que
quer: sabe que botões apertar, que máquinas usar."
“É óbvio
que o Bob conseguiu fazer com que déssemos o melhor de nós”. Foi incrível
assistir às mudanças que ele trouxe ao James: ele foi se soltando, deixando as
emoções fluírem."
ESTÚDIO
"No
total, passamos nove meses e meio no estúdio. Houve momentos de tensão, um
quase estrangulando o outro. Mas sabíamos onde estávamos indo. E acho que, no
final, conseguimos a melhor qualidade de som jamais produzida em metal."
A CAPA
"Tivemos
a ideia da capa preta quando estávamos trabalhando nos títulos. A ideia inicial
tinha mais detalhes, mas, como na música, fomos tirando tudo que era
desnecessário. Não queríamos nada que desviasse a atenção da música."
"É
engraçado como as pessoas interpretam o que veem numa capa. Se você vê os
monstros, espera um certo tipo de música. Nós também temos culpa, fomos
parcialmente responsáveis pela criação daquelas imagens típicas do heavy
metal."
EVOLUÇÃO
"Não
dá para ficar se repetindo ano após ano. Todas as grandes bandas - como o Black
Sabbath, o Led Zeppelin, o Police, o Rush - davam ou dão um passo à frente com
cada novo disco. Crescem como músicos, compositores, pessoas."
THRASH
“Não quero
parecer arrogante, mas acho que o Metallica está totalmente sozinho no que
faz”. Chame de thrash, speed, o que quiser. Eu prefiro música rápida e pesada...
Talvez tenhamos começado o movimento thrash nos Estados Unidos, mas não podem
nos culpar pelo que as outras pessoas fazem (risos)..."
BANDAS
Toda
nova música é uma reciclagem de algo anterior. Antes de nós havia tanta gente!
Mas poucas bandas no gênero são tão distintivas quanto o Metallica. O Slayer é
uma delas, apesar de não concordar com tudo que eles dizem. Do Anthrax... bem,
não sei se conseguiria identificar uma música deles."
"O
Faith No More... naquele disco eles conseguiram ir a tantas direções
diferentes! Da última vez que falei com o Jim (Martin) ele disse que estava
feliz com algumas coisas, infeliz com outras, das gravações do novo disco. Ele
estava tentando fazer a coisa ficar mais pesada. Quanto ao Primus, é
fantástico."
"Do
Sepultura ouvi pouco, através do Phil, do Sacred Reich, mas gostei do que ouvi.
Tem tanta coisa acontecendo no rock e no heavy metal! Tantas combinações! Olha
só o Mordred: guitarra pesada, baixo funky e scratching... Todo mundo está
explorando, e é assim que deve ser."
BRASIL
"Foi
uma loucura! Foi bem no final de uma turnê de dezoito meses. Estávamos
acabados. O engenheiro de som ficou doente, o Kirk ficou doente. Mas foi legal.
Só queremos voltar e mostrar do que realmente somos capazes."
TOP FIVE
"Meus
discos prediletos? O novo de Ziggy Marley, Jahmekya. The Early Years, do Tom Waits. Legend do Bob Marley... gosto de tudo do Bob
Marley. Thin Lizzy, Bad Reputation. I Stand My Ground
do Clarence Gatemouth Brown. E qualquer coisa da Motown: Jackson Five, Temptations etc. As únicas
bandas pesadas que ouço são o Sacred Reich e o Violence. Talvez se eu ouvir
mais o Sepultura eles entrem na lista."
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